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Foto do escritorVictória Profirio

Crítica: Cowboys - Uma jornada de amor e liberdade

Atualizado: 14 de nov. de 2022


Existem muitas coisas no mundo que testam a capacidade de entendimento dos seres humanos, muitas delas são imutáveis, mas por sua vez, também dependem de um processo de desconstrução de paradigmas e preconceitos.


´´Cowboys`` dirigido por Anna Kerrigan, acompanha a história de Joe (Sasha Knight) um garoto transexual que enfrenta dificuldades em se relacionar com sua mãe, Sally (Jilian Bel), que não aceita a maneira como ele se identifica. Seu único aliado é o pai, Troy (Steve Zahn), um homem com problemas de saúde mental, que o encoraja e aceita embarcar em uma jornada de fuga e aprendizado com o filho.


A fotografia pálida, a escolha por diálogos curtos e a estrutura que se intercala entre presente e passado recente, nos antecipa uma história com a proposta de nos fazer refletir. Embora pareça uma obra com pouco a contar, o longa surpreende nos assuntos abordados e a maneira como consegue amarrar todas as pontas em um roteiro simples.


A transexualidade tem sido um assunto cada vez mais debatido no universo cinematográfico, entretanto, produções que tratam sobre identidade de gênero em crianças ainda não dominam as telas. A inevitabilidade em falar sobre o tema, implica também em não discutir os problemas relacionados ao desenvolvimento dos jovens, como o isolamento, falta de autoaceitação, além do preconceito dentro do âmbito familiar e social.


Já no que se refere a doenças mentais, existem muitas produções que podem nos levar a ter perspectivas e um conhecimento mínimo sobre alguns transtornos e seu impacto. Entretanto, embora aborde estes dois assuntos cruciais para uma discussão, Cowboys nos convida a enxergamos personagens por traz dos estereótipos que lhe foram atribuídos durante a vida. Não se trata de falar sobre problemas ou escolhas, mas sobre pessoas.


O filme não tem como objetivo entrar em debate sobre essas questões, mas evidenciar o que há por trás daquilo que as pessoas não entendem, ou não fazem questão de compreender. O preconceito, a intolerância e a problematização familiar, são alguns dos principais dramas ressaltados.


De modo geral, a produção aborda uma história que enfatiza a relação de amor incondicional entre pai e filho. São personagens que sabem muito bem o que desejam, e não pedem licença para serem quem são. O filme é uma obra sobre transformação interna e a maneira como ela acontece através de vivências e decisões que podem não serem fáceis.



Texto publicado em Cinema & Companhia, no portal ArteCult, em 08/10/2021.


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