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Foto do escritorVictória Profirio

Crítica: Rainha de Copas

Atualizado: 14 de nov. de 2022


´´Rainha de Copas`` (Dronningen/Queen of Hearts), é uma produção sueca-dinamarquesa criada com o objetivo de ser tão tentadora, quanto cruel. Dirigido por May el-Toukhy, o longa incita o espectador, a explorar uma narrativa capaz de contestar os valores que pregamos.


Anne (Trine Dyrholm), é a representação de conquistas profissionais e pessoais que muitos almejam. Advogada renomada, ela é especialista em direitos da criança e do adolescente, além de mãe e esposa dedicada, porém, nada parece bom o suficiente para suprir o vazio que transborda dentro de si.


Ao saber da chegada do enteado Gustav (Gustav Lindh), um adolescente problemático, Anne o aceita sem hesitação, e busca integrá-lo a sua dinâmica familiar. Quando compreende as necessidades afetivas do garoto, a madrasta permite que o sentimento de reciprocidade domine suas ações.


O filme brinca com espaços de tempo, além de fazer uso de uma fotografia pálida e inóspita. Essas combinações, são usadas propositalmente para causar um cenário hipnotizante, e ao mesmo tempo alertar para um desfecho impiedoso e eminente.


É interessante observar como a figura de madrasta é retratada na história, as condutas utilizadas pela protagonista para construir uma suposta afinidade familiar e amigável, são as mesmas que abrem espaço para que a relação incestuosa aconteça.


Trine Dyrholm realizou uma atuação impecável, com o decorrer da história é fácil nos depararmos com um misto de sentimentos sobre a personagem. Anne se desprende de seus pudores, e sua vida perfeita, para se apropriar de aventuras sexuais com seu enteado, entretanto, nem tudo é o que parece.


O longa arquiteta uma premissa inteligente, relacionada a sensação de poder, e domínio sobre futuras consequências. Gustav não é apenas mais um membro da família, ele é alguém que precisa ser descartado do jogo onde Anne reinava sozinha.


O filme tem como inspiração o mito de Fedra, além, é claro, de utilizar ´Alice no País das Maravilhas` como sua maior referência. Para bom entendedor, um ´´Cortem as cabeças!`` já basta.



Texto publicado no site A Toupeira em 29/10/2020.


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